terça-feira, 22 de janeiro de 2019

E então, enquanto Mané, entre chorumelas, contava para a mãe o episódio do árabe ingrato (vide abaixo), ela se lembrou de outro, muito tempo atrás, igual ou parecido, que ocorrera no aeroporto, daquela vez, Mané não lembra? E Mané que não lembrava escuta a mãe relatar daquela vez no aeroporto de Viracopos quando foram buscar a irmã que voltava de viagem, Mané solteiro, o pai, a mãe e os sobrinhos gêmeos pequeninos, que já estavam com saudades dos pais. E enquanto esperavam Mané foi até ali com os meninos comprar alguma guloseima e se deparam com a cena: um homem falando em árabe com a atendente de informações que olha para ele com olhos esbugalhados. Mané, que sempre se sente atraído pela língua árabe, vai até o local dos fatos e tenta interferir. O homem, com bigodão e narigão adunco, fica feliz que Mané consegue entender alguma coisa, mas o cara tem um sotaque diferente e Mané não compreende o que ele quer. A certo custo, Mané diz que vai atrás de ajuda e, deixando os sobrinhos ali com o homem e a atendente, Mané vai até o outro lado buscar o pai que fala árabe com perfeição. O pai, sempre solícito, aquiesceu em fechar o livro que lia e seguiu Mané até o senhor. Lá chegando, descobriu que o árabe tinha se perdido dos familiares (parece que os árabes gostam de se perder). Com tranqüilidade e alguns cafés, o pai de Mané iniciou uma longa conversa com o sujeito, riram, apontaram para Mané e os gêmeos, parecia que o sisudo pai de Mané tinha encontrado um velho amigo. Mané prestava atenção tentando entender alguns pedaços: “eu sou do Egito, mas meu pai era de Alepo, não me diga talvez nossos pais se conheçam, ou fossem aparentados, aparentados? Impossível, eu sou judeu, ah judeu, que pena o que fizeram com os judeus, ah, e que pena fizeram com os árabes” e gargalhavam felizes. Pouco depois se aproxima uma família esbaforida, os parentes do árabe, gritam e brigam com o homem porque ele se perdeu, ele briga com eles por terem deixado ele se perder, beijam-se, abraçam-se, entre as muitas palavras, escuta-se sempre um “yahud” e Mané percebe que estão agradecendo a ele e ao pai, dois yahud, adultos e dois yahud pequenos e loirinhos e depois todos vão embora felizes, Mané também, com a sensação da missão cumprida e então ele corre para o desembarque arrastando os gêmeos que lá esta a mamãe saindo do portão e este, parece, não é o fim da história. Na confusão de abraços e beijos Mané conheceu Nadia, neta do árabe perdido e enquanto abraçava a irmã que chegava e se deleitava com a alegria dos pimpolhos a reencontrar a mãe, Mané se certifica de ainda ter no bolso o papelzinho que Nadia lhe deu sem ninguém ver e que continha um telefone fixo de Campinas e um endereço. Ao contrário do que possa parecer, Mané nunca mais viu Nadia e só veio a encontrar outro árabe perdido mais de 35 anos depois.22/01/2019

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